Toda investigação física que conduz ao infinito inevitavelmente começa no limite do nada. Observando o comportamento da função matemática tangente, percebe-se que, ao aproximar-se de 90 graus, seu valor cresce abruptamente em direção ao infinito. Não se trata apenas de uma explosão numérica, mas de uma expressão matemática semelhante ao fenômeno físico que ocorre no interior dos buracos negros, onde o espaço-tempo é deformado até um ponto extremo, conhecido como singularidade.
Rotacionando graficamente essa função em torno de seu ponto singular, obtém-se uma estrutura cônica que lembra exatamente o modelo teórico de um buraco negro. Nesse modelo, o vértice do cone não aponta para cima, mas sim para baixo, indicando a convergência para uma singularidade gravitacional. Esse é o ponto onde as leis da física clássica cessam e a luz não escapa, um estado próximo ao zero Kelvin, onde virtualmente todo movimento térmico desaparece.
Singularidade, na física moderna, é mais que uma abstração matemática: é a fronteira entre o zero e o um, entre inexistência e existência. Um número infinito de zeros nunca produzirá o número um. Da mesma forma, não existe processo físico conhecido que transforme o absoluto vazio em matéria. Aqui reside o salto ontológico, não matemático: a passagem do não-ser ao ser requer um princípio externo, um ato criativo, um "fiat" inicial.
Esse conceito encontra uma analogia profunda na própria narrativa cristã da encarnação, onde o Verbo divino, Logos, é descrito não como resultado de uma inseminação humana comum, mas de uma concepção sobrenatural — uma intervenção direta na realidade material. Tal concepção, segundo a tradição, ocorreu sem a transmissão genética comum, refletindo um evento físico incomparável em qualquer outro fenômeno conhecido.
Nesse ponto, a física e a teologia dialogam intensamente. A cruz, na tradição cristã, simboliza mais que um sacrifício: simboliza uma separação ou ruptura no contínuo espaço-temporal entre o infinito e o finito. Ao dizer "Deus meu, por que me abandonaste?", há uma separação metafísica profunda: a eternidade se contrai para permitir o surgimento do tempo linear.
Curiosamente, a obra literária de Dante Alighieri também expressa essa intuição científica quando descreve o Inferno em nove círculos descendentes, culminando num ponto de frio extremo, e não calor. No círculo mais profundo, ele descreve o gelo absoluto, um estado físico próximo do zero Kelvin, como castigo máximo: ausência de energia, movimento e vida. Essa antecipação literária do que hoje se descreve como "frio absoluto" em termos termodinâmicos é surpreendentemente precisa. O Tártaro é gelado!
Dessa forma, o zero absoluto não é apenas um limite físico, mas uma porta ontológica. O zero, nessa visão, não representa apenas ausência, mas a potencialidade máxima. É o momento anterior ao nascimento do um, do primeiro átomo, da primeira partícula, do primeiro instante do universo.
É nesse sentido que o Verbo se manifesta como evento físico definitivo. A realidade material emerge num ponto preciso, onde o infinito encontra o finito, onde o zero Kelvin cede espaço à existência térmica do universo em expansão. Esse salto absoluto, essa singularidade primordial, representa o maior mistério da física, da matemática e da fé.
E nesse momento singular, talvez possamos dizer: no início era o Verbo. E o Verbo estava com Deus. E o Verbo era Deus. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós.
E a física, finalmente, contempla o mistério que a teologia já havia anunciado.
Desde o Começo, Deus...
>>> Eu Sou! <<<
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