O Mistério do Salmo - 8:2
Entre todos os sons da criação, talvez nenhum seja tão misterioso, autêntico e primordial quanto o choro de um recém-nascido. Aquele primeiro grito, que é mais soluço do que melodia, não representa apenas o anúncio de uma nova vida – é também um eco sagrado do início de todas as coisas, uma nota que ressoa profundamente com o próprio nome de Deus.
Onde o mundo enxerga fraqueza, Deus estabelece Sua força; onde o orgulho humano busca poder e domínio, Deus prefere revelar-se na simplicidade, na vulnerabilidade e na entrega absoluta. Mas, além disso, há um segredo ainda mais profundo nesse som primal.
No hebraico original, o nome sagrado de Deus é representado pelas letras Y-H-W-H (Yod-Heh-Vav-Heh), impronunciável por sua santidade absoluta. Curiosamente, sua pronúncia sugere o próprio ritmo da respiração humana: Yah... Ho... Eh... Alguns sábios e rabinos sustentam que cada inspiração e expiração humana, desde o primeiro fôlego ao nascer até o último suspiro na morte, é em si mesma uma oração silenciosa, uma invocação contínua e involuntária do Nome divino. Nesse sentido, o choro do recém-nascido é o primeiro louvor da criatura ao Criador, um culto puro e instintivo que precede qualquer palavra articulada ou doutrina aprendida.
No instante em que o bebê preenche seus pulmões com o ar do mundo exterior e solta seu primeiro choro, esse som atravessa o silêncio e declara, mesmo sem consciência clara: “Eu existo, Eu Sou! Fui soprado à vida!” Sem perceber, o bebê proclama o Nome daquele que é o Autor da Vida. Cada ser humano, em seu nascimento, ecoa inconscientemente o Nome Eterno, cumprindo de forma inocente e perfeita um sacerdócio existencial diante do mistério sublime da criação.
O Salmo 8:2 se torna real e palpável nesse exato momento: da fragilidade, Deus extrai força.
O choro do bebê não é apenas um pedido desesperado de ajuda, mas um testemunho autêntico e puro de dependência, confiança e entrega total. É um louvor involuntário que desarma o inimigo, por isso, o diabo, como Moloch, odeia as crianças, pois onde há vida nova existe esperança, mas não para nosso adversário e onde há esperança existe a marca inconfundível do sopro divino.
O mistério profundo do Nome de Deus – YHWH – não é reservado apenas aos eruditos, teólogos ou iniciados em segredos místicos. Pelo contrário, ele está gravado no ciclo constante da respiração, no sopro vital, no murmúrio íntimo que emitimos ao nascer, viver e morrer. Deus revela-se plenamente na simplicidade absoluta, e por meio do frágil som do recém-nascido, expõe a inutilidade do orgulho humano e da pretensão autossuficiente.
É preciso abandonar a ilusão de que, por supostamente estarmos “fora da Matrix”, somos superiores ou mais sábios do que aqueles que ainda dão os primeiros passos na existência. Você não é melhor do que ninguém. Essa sabedoria que você carrega não é propriedade sua, ela lhe foi dada – você apenas esqueceu. Os bebês permanecem silenciosos em palavras porque ainda guardam muito da eternidade e da presença divina dentro de si. Assim aconteceu com Zacarias, pai de João Batista, que ficou mudo até pronunciar o nome "Iohanes" (João), cujo som ressoa com a pronúncia do Nome divino YHWH. Não é fascinante perceber isso?
Dessa forma, sempre que ouvirmos o choro de um bebê, somos imediatamente convidados a refletir sobre o milagre profundo da existência e sobre o Deus que manifesta Sua força nos vulneráveis. Cada soluço, cada grito, cada respiração é uma nota no grande cântico cósmico da criação – uma oração oculta, um chamado pelo Nome acima de todos os nomes.
Que jamais percamos a sensibilidade e a capacidade de nos maravilhar com aquilo que é pequeno, humilde e indefeso. Pois exatamente ali, na fronteira entre um choro e um suspiro, Deus ainda fala, revela-se e firma Sua soberana força.
“Da boca das crianças e dos recém-nascidos suscitaste força,
para fazer calar o inimigo...”
Muito bom!!!
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