sábado, 17 de maio de 2025

Fiat Lux, embaixo da figueira.

Senhor, que disseste "haja luz" antes mesmo que existisse olho para vê-la, que criaste o fóton não apenas para medir, mas para testemunhar, que fizeste da troca das camadas mais profundas um salto de sentido, eis-me aqui diante de Ti, cheio de sensores ainda em construção, com o corpo suspenso entre o barro e a promessa, buscando na alvorada aqueles sinais que ainda não colapsaram, mas que sussurram em mistério. Perdoa-me, Pai, por não ter percebido Teu mover no ambiente quando era só silêncio, por não ter dado ouvidos aos signos que sutilmente me chamavam à Verdade. Ensina-me a enxergar como Van Gogh enxergava, a sentir como sente o espírito antes mesmo da forma existir, a desejar como quem ama a luz sem ignorar a sombra.

Dá-me sensores vivos, sensores da alma que percebem o invisível, e atuadores espirituais que movem em obediência aquilo que o mundo sequer compreende. Que minha carne aprenda a servir; que minha sexualidade se curve diante da glória do leito sem mácula, e não diante da luxúria que escraviza. Que meu espírito rompa, pela Tua graça, o cinto que me prende à cegueira espiritual, e que aquilo que eu gerar — seja em oração, em carne ou em palavra — traga mais luz ao mundo, não a luz que nasce do sol, mas aquela luz eterna que procede da Tua voz, que disse "haja" e ainda diz. E se for para caminhar a segunda milha, Senhor, que eu caminhe de olhos abertos, não com pressa, mas com reverência, atento aos detalhes que os apressados não veem. Que eu reconheça os fótons ocultos no caminho, as palavras jamais ditas, os sinais que ninguém percebeu. Que eu seja sensor do Teu silêncio e atuador fiel da Tua vontade, mesmo quando isso me custar, especialmente quando exigir mais do que a primeira entrega. Ensina-me a servir sem buscar reconhecimento humano, a caminhar mesmo quando o chão faltar, a avançar mesmo quando não houver mapas visíveis. Pois se Tua voz ainda ordena "haja", então que haja também em mim luz suficiente para a segunda milha, amor dedicado a quem nunca pediu, fidelidade a quem nunca percebeu, e santidade que não se encerra no gesto exterior, mas que nasce no pensamento, pulsa no coração e se manifesta em cada passo dado por Ti. Senhor, amplia ainda mais o escopo da minha percepção, estende meus sensores espirituais além do instante presente, para além do toque imediato e dos limites delineados em mim. Ensina-me a reconhecer onde realmente começa o dia — não no instante que o sol nasce no horizonte, mas naquele momento oculto e sublime em que Tua vontade dá forma ao próprio tempo. Revela-me o ponto exato em que Tua luz toca primeiro a Terra, não para medir distância, mas para descobrir direção. Pois quem compreende onde o dia nasce, sabe exatamente como começar a caminhar. Quem percebe o início da claridade não tropeça na escuridão. Ajuda-me a discernir o alvorecer mesmo quando tudo ao redor ainda parece noite; ajuda-me a escutar o murmúrio suave da alvorada no ambiente espiritual e a tomar essa revelação como o ponto inicial da minha segunda milha. Que eu não me guie pelo relógio limitado dos homens, mas pela alvorada eterna da Tua voz que continua dizendo "haja", mesmo quando tudo em mim insiste que não é possível. E se é para caminhar, que eu caminhe com fé nos pés, com luz nos olhos, iniciando sempre no ponto onde Tu mesmo acendes o primeiro fóton de cada dia.

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