No princípio, não havia forma nem substância, apenas o É, Verbo Ser, A palavra e ato puro do EU SOU, pleno e absoluto, que existia sem precisar de existência. Então Ele falou, e tudo começou a ser. No vácuo primordial, fez-se a luz, não porque houvesse ausência dela, mas porque a própria palavra dita era luz, separando trevas e claridade, firmamento e profundezas, terra e mares.
Nesse instante, o
tempo se curvou ao decreto do Criador, pois antes não havia tempo, apenas um
eterno agora, que, agora, já se desdobrava em manhã e tarde, numa sucessão que
ecoaria pelos séculos. Então o É se moveu e fez surgir um caminho, um traço na
imensidão, onde o espaço passou a ter altura, largura e profundidade. Nesse
traço, foi lançada a semente do que viria a ser o lar dos que viriam depois.
Então a terra brotou e deu folhas, e deu frutos, e o mar e o ar se encheram de
criaturas, e as planícies e montanhas viram nascer feras e rebanhos.
Por fim, à imagem do
É, Ele formou aqueles que portariam sua semelhança, não em carne, mas em
espírito, pois carne se desfaz, mas em essência, pois a essência permanece.
Deu-lhes domínio sobre tudo, não como senhores tiranos, mas como guardiões e
jardineiros, porque, se Ele ordena e preenche, então o homem deveria continuar
essa obra, sem jamais esquecê-Lo. Pois fora formado do barro, mas soprado pelo
espírito, e, com isso, o universo estava completo, não porque houvesse algo
mais a fazer, mas porque tudo já estava feito.
Então Ele descansou, não porque se cansasse, mas
porque o descanso é a marca da perfeição, pois tudo que precisa ser feito já
está feito antes mesmo de ser. Nesse descanso, os séculos se dobram, pois ele
não é um repouso de fraqueza, mas uma realidade contínua, um chamado ao homem
para que cesse sua luta vã e entre no descanso do Criador. Mas o homem,
inquieto, quis traçar um caminho próprio, quis conhecer a árvore, quis saber o
que não precisava saber e, ao saber, perdeu-se. Da luz restaram sombras, da criação
perfeita surgiu a morte. Ainda assim, a voz do É continuou ecoando, chamando
através dos tempos, restaurando através dos séculos.
Um dia, o Caminho voltou ao mundo, não como traço
no espaço, mas como carne e osso, como verbo feito gente. Então os que haviam
se perdido puderam ver de novo e, quem se achegasse ao Caminho, voltaria ao
descanso, pois o descanso é o É, e o É é a vida, e a vida é luz, e a luz
resplandece nas trevas, e as trevas não a venceram.
I. A ORDEM DIVINA DA
CRIAÇÃO
No princípio, antes
que houvesse forma ou substância, havia Deus. Não um vazio informe e caótico,
mas a plenitude infinita de Seu ser. E então, pela Palavra, Ele falou, e o
universo começou a existir.
O relato de Gênesis
1 não é apenas uma narrativa histórica; é uma revelação do caráter e do
propósito divino. Ele não cria arbitrariamente, mas com intenção, moldando a
realidade em ciclos ordenados:
1. Separação (Dias
1-3) – O Eterno traça limites, erguendo fronteiras entre luz e trevas, águas e
céus, terra e mares.
2. Preenchimento
(Dias 4-6) – O Criador não apenas ordena, mas completa, enchendo a vastidão com
luminares, criaturas e, por fim, com o homem.
A ordem é perfeita,
pois a criação não é obra do acaso, mas da mente infinita.
II. O VERBO QUE
CHAMA À EXISTÊNCIA
A criação surge não
pelo labor das mãos, mas pelo sopro da Palavra. O hebraico "Bará"
(בָּרָא), usado exclusivamente para Deus, indica uma criação que não se origina
de matéria preexistente, mas do próprio poder divino. E esse Verbo Criador ressurge
em João 1:1-3: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o
Verbo era Deus... Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que
foi feito se fez." Cristo não é uma mera testemunha da criação; Ele é o
próprio agente pelo qual todas as coisas vieram a existir.
III. A IMAGO DEI – A
MARCA DO DIVINO
Quando chega ao
ápice de Sua criação, Deus faz algo extraordinário. Ele não simplesmente forma,
mas reflete algo de Si:
"Façamos o
homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança." (Gênesis 1:26)
Essa
"imagem" não é apenas uma semelhança física ou moral, mas um reflexo
do próprio governo divino. O homem é feito para governar, cultivar, transformar
e refletir o caráter de Deus na criação. Mas a queda distorce essa imagem — e é
por meio de Cristo, o "segundo Adão", que ela será restaurada
(Colossenses 1:15).
IV. LUZ E TREVAS – O
SIMBOLISMO DA PRIMEIRA SEPARAÇÃO
Desde o primeiro ato
criador, Deus separa luz e trevas. Mas essa distinção transcende a esfera
física; ela ecoa no espírito da humanidade. As Escrituras sempre associam a luz
com a santidade, e as trevas com a perdição (João 3:19). Há um prenúncio da batalha
espiritual, da luta entre o Reino de Deus e os poderes da desordem.
V. O SHABAT – UM
DESAFIO AO CORAÇÃO HUMANO
O sétimo dia não tem
"tarde e manhã". Ele não está contido na sequência cíclica da
criação. Deus descansa, não porque está fatigado, mas porque Sua obra é
perfeita. E esse descanso não é meramente físico, mas aponta para algo maior —
a promessa de um descanso eterno para Seu povo (Hebreus 4:9-11).
VI. O COSMOS
TESTIFICA
A ciência não
desmente a criação divina, mas revela a assinatura do Criador. "Haja
luz" pode ressoar nas equações da cosmologia moderna, no instante em que o
espaço-tempo foi tecido. O desenvolvimento da vida, das águas para a terra,
alinha-se com a progressão ordenada de Gênesis. A ciência e a fé não são
rivais; são janelas para a grandiosidade do Altíssimo.
VII. A CHAMADA PARA
VER ALÉM DA SUPERFÍCIE
Gênesis 1 não é um
mero relato. É um convite. Olhar para sua profundidade é contemplar o Deus que
fala e faz, que ordena e conclui, que governa e chama. Que essa visão nos leve
a uma fé mais firme, pois o mesmo Deus que moldou o universo molda nossos corações
hoje.
"Os céus
proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra de Suas mãos."
(Salmos 19:1)
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