Você já leu a parábola do Filho Pródigo, sim?
Certamente sim. No entanto, essa história nunca, foi chamada desta maneira pela
Igreja primitiva. Quero te mostrar, através de um livro, um outro ponto de
vista. Deus, em Cristo, também foi inconsequente e pródigo, gastando toda sua
herança conosco, pecadores vis, depravados, prostituídos, viciados e ingratos.
Não pelas mesmas razões, mas Jesus também pode ser chamado de Pródigo. Continue
sua leitura...
Este pequeno livro, de Timothy Keller, pretende
fazer uma exposição dos princípios básicos da mensagem cristã, o evangelho. Ele
pode, assim, servir como introdução à fé cristã para aqueles que não estão
familiarizados com tais ensinamentos ou que deles se tenham desviado por algum
tempo. Não obstante, este volume não se destina apenas àqueles que buscam.
Muitos cristãos de longa data acreditam conhecer de forma razoável os fundamentos
da fé cristã e acham que não precisam de uma cartilha. Ainda assim, um dos
sinais que evidenciam a falta de compreensão da natureza única e radical do
evangelho é o sentimento de já conhecê-lo. Por vezes, membros antigos da igreja
de longa data se veem tão tocados e tão revirados por uma nova compreensão da
mensagem cristã que afirmam terem sido, essencialmente, “reconvertidos”. Este livro, portanto, foi escrito tanto para curiosos alheios quanto para iniciados na fé, tanto para os que Jesus chama “irmãos mais novos” quanto para os chamados “irmãos mais velhos” da famosa Parábola do Filho Pródigo. Recorro
a essa conhecida história, encontrada no décimo quinto capítulo do evangelho de
São Lucas, para chegar ao cerne da fé cristã. O enredo e o dramatis personae da
parábola são demasiado simples. Havia um pai e seus dois filhos. O mais novo
reclama sua parte da herança, recebe-a e, de imediato, parte para uma terra
distante onde gasta toda a soma com prazeres frívolos e sensuais. Penitente,
retorna para casa e, para sua surpresa, é recebido de braços abertos por seu
pai. Tal recepção causa grande indisposição e ira no irmão mais velho. A
história se encerra com o pai apelando para que o primogênito se junte às boas-vindas
e ao perdão para com seu irmão mais novo. A primeira vista, a narrativa não é
tão emocionante. Creio, no entanto, que se os ensinamentos de Jesus fossem
comparados a um lago, essa famosa Parábola do filho pródigo seria um dos pontos
de maior clareza do lago, onde se pode enxergar toda a sua extensão até o
leito. Muitos estudos excelentes já foram produzidos em relação a esse texto
bíblico ao longo dos anos, mas a essência da compreensão que tive dele proveio de um sermão que ouvi, há mais de trinta anos, feito pelo Dr. Edmund
P. Clowney. Ouvir tal sermão mudou a maneira com que eu compreendia o Cristianismo.
Ao longo dos anos, muitas foram as vezes em que me voltei para a parábola em
busca de orientação e aconselhamento. Já vi mais pessoas se sentirem
encorajadas, iluminadas e amparadas por essa passagem, quando expliquei a ela
seu verdadeiro significado, do que com qualquer outro texto. Certa vez, estava
em viagem e preguei esse sermão, bem como alguns outros, com a ajuda de um
intérprete. Algum tempo depois, o tradutor escreveu para me contar que,
conforme traduzia o sermão, percebia que a parábola era como uma flecha
apontada para seu próprio coração. Depois de um período de dúvidas, o sermão
acabou por levá-lo à fé em Cristo. Muitas outras pessoas já me disseram que, ao
real mente compreender esse relato de Jesus, conseguiram recuperar a fé, o
casamento e, por vezes, literalmente, suas próprias vidas foram salvas. Os
primeiros cinco capítulos serão dedicados a desvendar o sentido básico da
parábola. Os primeiros cinco capítulos serão dedicados a desvendar o sentido básico da parábola. No sexto capítulo, demonstrarei como a história nos ajuda a compreender a Bíblia como um todo; e o capítulo 7 tratará de como esse ensinamento se aplica ao modo com que vivemos no mundo. Não usarei o nome mais comum dessa história — a Parábola do filho pródigo. Não é correto enfocar apenas um dos filhos da história. Nem mesmo Jesus a chama “Parábola do filho pródigo”; ele começa dizendo que “um homem tinha dois filhos A narrativa trata tanto do irmão mais velho quanto do mais novo, assim como também o faz em relação ao pai e aos dois filhos. Além do mais, o que Jesus fala acerca do filho mais velho é uma das mensagens mais importantes que a Bíblia nos fornece. Desse modo, a parábola talvez fosse melhor intitulada “Os dois filhos perdidos”. O termo “pródigo” não significa “rebelde”, mas, de acordo com o Dicionário Merriam-Webster, perdulário inconsequente. Significa gastar até não sobrar nada. Desse modo, o termo é apropriado para descrever tanto o pai quanto o filho mais novo da história. As boas-vindas do pai ao filho penitente foi, de fato, negligente, uma vez que ele se recusava a “reconhecer” ou a apontar os pecados do filho, ou mesmo a exigir uma reparação. Tal reação ofendeu o filho mais velho e muito provavelmente a comunidade local. Mas é do Pai celestial que Jesus trata na história. São Paulo escreve: “Deus em Cristo reconciliava-se com o mundo, não imputando aos homens suas transgressões ” (2 Coríntios 5:19 American Standard Version — tradução livre). Jesus assim nos mostra o Deus de Abundância, que nada mais é que pródigo em relação a nós, seus filhos. A graça inconsequente de Deus é nossa maior esperança, uma experiência renovadora e o tema deste livro.
Autor: Timothy Keller
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