A
ORIGEM DE SATANÁS
- por David McClister
Abra qualquer número de obras
de referência bíblica usadas comumente e olhe para o verbete
"Satanás". Você encontrará, provavelmente, uma história familiar. Eu
cito, como típico, o Complete Bible Handbook (Manual Completo da Bíblia), de L.
O. Richards:
"O Velho Testamento indica que Satanás foi criado por Deus como um anjo governante chamado Lúcifer, com grandes poderes. Mas o orgulho levou Lúcifer a se rebelar contra Deus (conforme Isaías 14:12-14; Ezequiel 28:12-15). Torcido agora pelo pecado, Lúcifer é transformado em Satanás, que quer dizer `inimigo´ ou `adversário´ ...Satanás é um poderoso anjo decaído, intensamente hostil a Deus e antagonista do povo de Deus." (páginas 245, 801).
Pergunte à maioria das pessoas
que creem na Bíblia de onde veio Satanás e nove entre dez lhe darão uma versão
da história citada acima. A ideia de que Satanás é um anjo decaído a quem Deus
expulsou do céu e que caiu na terra é tão espalhada que muitas pessoas
acreditam que a Bíblia a ensina.
Pode surpreendê-lo descobrir que a Bíblia não ensina tal
coisa. É certo que há passagens na Bíblia que falam de seres caindo do céu, mas
não são sobre Satanás e usam linguagem figurativa. Somente por uma leitura
descuidada destes textos pode alguém chegar à história popular relativa à
origem de Satanás. Examinemos as passagens bíblicas relevantes, no contexto.
QUEM É SATANÁS?
O nome "Satanás" é uma transliteração do hebraico
satan, indicando um acusador no sentido legal, um queixoso que tem uma acusação
a apresentar.
Em Zacarias 3:1 lemos "Deus me mostrou o sumo sacerdote Josué, o qual
estava diante do Anjo do SENHOR, e Satanás estava à mão direita dele, para se
lhe opor." Numa palavra, Satanás se
opõe a nós, trabalha contra nós, ou "nos persegue", na tentativa de
nos derrotar espiritual e moralmente. Jesus chamou-o homicida e mentiroso,
em João 8:44. Em Apocalipse 12:9, João
retrata Satanás como um grande dragão, uma representação que ressalta sua
terrível natureza. Esse mesmo versículo identifica-o como a serpente (uma
referência a Gênesis 3) e como o diabo, que é outro nome bíblico comum para
ele. Talvez 1 Pedro 5:8 nos diga o que mais precisamos saber a respeito
dele: "O diabo, vosso adversário,
anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar".
A ênfase bíblica está no que
Satanás é em relação conosco (um inimigo). Algumas
pessoas, contudo, pensam que certos textos bíblicos vão mais além e nos dizem
como Satanás veio a se tornar assim. Examinemos estes textos cuidadosamente.
Isaías 14:12-14
Esta passagem diz: "Como
caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra,
tu que debilitavas as nações! Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu;
acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me
assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens, e
serei semelhante ao Altíssimo." Você notará imediatamente que esta
passagem não menciona Satanás por nenhum
de seus nomes bíblicos comuns. Pode-se extrair deste texto uma teoria da origem de Satanás somente
assumindo que esta passagem descreve-o, e ignorando o contexto desta passagem
na mensagem de Isaías.
Isaías não estava discutindo
Satanás em Isaías 14, nem a origem de Satanás de modo nenhum faz parte desta
mensagem do profeta. Se dissermos que
este texto é sobre a origem de Satanás, isso simplesmente torna sem sentido o
contexto mais amplo. Isaías profetizou durante os reinados dos reis hebreus
Uzias, Jotão, Acaz, e Ezequias (Isaías 1:1). Seu ministério abrangeu
(aproximadamente) os anos 750 - 686 a.C., uns 65 anos, no máximo. Este foi um
tempo quando o povo de Deus tinha se tornado corrompido pela idolatria. Deus
enviou Isaías para pregar o arrependimento ao seu povo e para adverti-lo de que
um fracasso em voltar-se da idolatria significaria desastre em escala nacional.
Isaías pregou a ambos os reinos de Israel e Judá, cumprindo sua missão dizendo
aos povos desses reinos que eles sofreriam terrivelmente se recusassem
arrepender-se. Isaías 10:5-6 resume a mensagem ao reino do norte. Há linguagem
semelhante (13:3-6) reservada para o reino do sul, o reino contra o qual Deus
enviaria os babilônios.
A mensagem de Isaías não era
completamente de desânimo e condenação. Os
assírios e os babilônios, ele pregou, eram simplesmente instrumentos que Deus
usaria para punir o seu povo. Uma vez que Deus tivesse usado essas nações para
seus propósitos, Ele se voltaria e aplicaria seu julgamento sobre eles, pela
impiedade deles próprios. É uma mensagem da soberania de Deus em ação que
causa reverência e temor nos ouvintes. A Babilônia cairia, e depois disso Deus
renovaria e reuniria seu povo e lhes daria uma gloriosa e nova existência. Isaías 14 é sobre a queda do império
babilônico. Isaías diz aos habitantes do reino sulista de Judá que, depois que
eles tivessem sofrido o castigo, viria o dia quando eles poderiam ver a queda
de seu opressor e escarnecer de Babilônia do modo como esta tinha escarnecido
de Judá. Veja os versículos 4 e seguintes. ISTO É SOBRE BABILÔNIA.
Ora, porque Isaías começaria o
capítulo falando sobre a queda de Babilônia, interromperia com uma descrição da
origem de Satanás, e então recomeçaria a falar sobre a queda de Babilônia?
Simplesmente não faz qualquer sentido aqui no contexto ver 14:12-14 como sendo
sobre a origem de Satanás. O fato é que
Isaías estava descrevendo para povo de Judá o que eles estariam dizendo quando
zombassem do rei de Babilônia que tinha sido rebaixado e decaído do poder
(versículo 4). As mesas virariam, e
Isaías está descrevendo a ironia de tudo isso. Até mesmo a leitura corrida da
passagem revela que a linguagem aqui é poética e figurativa, e temos que
tratá-la de acordo. "Céu" no versículo 12 é linguagem figurativa
para o que é alto e exaltado, e Isaías está aqui descrevendo a alta
consideração em que o rei de Babilônia era tido. O profeta descreve sua queda
do poder figurativamente, como uma queda do céu. Então ele chama o rei de Babilônia, também usando linguagem figurada, a
"estrela da manhã". Na sua glória, durante algm tempo, o soberano de
Babilônia era como uma estrela brilhante no céu. Contudo, seu reinado e seu
poder cairiam, e, mantendo as imagens, Isaías pinta sua extinção como uma
estrela cadente.
Parte da incompreensão popular desta passagem resulta do
aparecimento da palavra "Lúcifer" em algumas versões do versículo 12.
A palavra hebraica em questão aqui é helel, que significa "estrela da
manhã" e não tem nenhuma ligação com Satanás. "Lúcifer" é uma
velha palavra latina que originalmente significava "portador da luz"
e era o nome do planeta Vênus sempre que aparecia no céu matinal. Na época que esta palavra foi
usada nas traduções deste versículo, "Lúcifer"
não significava Satanás. Infelizmente, para muitas pessoas, hoje em dia,
Lúcifer é o nome de Satanás (porque Isaías 14:12-14 é aceito como sendo sobre
Satanás!). Não é porque os tradutores
erraram, mas porque pessoas de tempos posteriores, ou esqueceram o que Lúcifer
significava ou concluíram erradamente que era o nome de Satanás, ou ambos.
Isaías 14:13 recita a
jactância arrogante do rei babilônico. Certa vez ele pensou que era o maior do
mundo, que tinha poder e autoridade igual à do próprio Deus. Uma das características do retrato
profético de Babilônia é seu grande orgulho. Contudo, Deus rebaixaria seu rei
ao mais baixo nível imaginável para a mente hebraica: o Sheol, o reino dos
mortos (versículo 15). Os versículos 9-11 descrevem como os habitantes do Sheol
ficariam surpresos porque alguém que pensava ser tão "alto" estava
agora entre eles, num lugar tão "baixo". O ponto é que o rei babilônico foi do extremo da exaltação mundana para
a extrema humilhação, e isto era um feito de Deus, o julgamento de Deus. A
coisa toda é um quadro, uma imagem, e não uma narrativa histórica literal.
A ênfase está no contraste entre as condições do soberano babilônico
"antes" e "depois". As pessoas, então, olhariam para o
fracasso do rei babilônico e perguntariam: "É este o homem que fazia a terra
tremer, que sacudia reinos, que fazia do mundo um deserto, derrubava suas
cidades, que não permitia aos seus prisioneiros voltar para casa?"
(versículos 16-17).
Você vê, então, que quando
examinamos Isaías 14:12-14 em seu contexto, ele não nos diz nada sobre a origem
de Satanás. É uma descrição figurativa
da queda do rei de Babilônia.
Ezequiel 28:12-16
Outra suposta passagem sobre a
origem de Satanás é Ezequiel 28:12-16, onde se lê: "... Assim diz o SENHOR
Deus: Tu és o sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura. Estavas no
Éden, jardim de Deus; de todas as pedras preciosas te cobrias: o sárdio, o
topázio, o diamante, o berilo, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo e a
esmeralda; de ouro se fizeram os engastes e os ornamentos; no dia em que foste
criado, foram eles preparados. Tu eras querubim da guarda ungido, e te
estabeleci; permanecias no monte santo de Deus, no brilho das pedras andavas.
Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se
achou iniqüidade em ti. Na multiplicação do teu comércio, se encheu o teu
interior de violência, e pecaste; pelo que te lançarei profanado fora do monte
de Deus, e te farei perecer, ó querubim da guarda, em meio ao brilho das
pedras."
A referência ao Éden é, para
muitos, um indicador seguro de que esta passagem tem que ser sobre a origem de
Satanás. Não importa que Satanás já
fosse o inimigo do homem no Éden! Mas, novamente, é somente aceitando que esta
passagem é sobre Satanás (a própria coisa que precisa ser provada) que podemos
lê-la desse modo. O contexto aqui argumenta em outra direção.
As palavras de Ezequiel aqui
dizem respeito ao rei de Tiro. Os versículos 1 e 11 tornam isto claro. O
capítulo 27 é sobre a queda da nação, e o capítulo 28 é especialmente sobre a
queda do rei dessa nação. Prestar um pouco de atenção ao contexto esclarece
muito! Exatamente como na passagem de Isaías, tomar as palavras do profeta como
descritivas de Satanás e sua "queda" é fazer deste capítulo um
completo contra-senso.
Aqui a mensagem está em duas
partes, mas cada uma delas apresenta a mesma mensagem. Os versículos 1-10 descrevem o rei de Tiro do ponto de vista
de Deus. Como o rei de Babilônia, o rei de Tiro era orgulhoso, arrogante e
jactancioso. Ele se achava divino, e assim declarava ter uma glória que não lhe
pertencia (versículos 2,6,9). O profeta descreve sarcasticamente a grandeza do
monarca nos versículos 3-5. Pela sua arrogância, o orgulhoso rei colherá o
julgamento de Deus. O julgamento sobre ele é que Deus o abaterá (versículos
7-10). Os versículos 11-19 repetem esta mensagem. O retrato sarcástico que
o profeta faz do rei reaparece nos versículos 12-16. O aumento no nível de
imagens e figuras na linguagem aumenta o sarcasmo. O rei pensava de si mesmo em
termos absolutamente altos, mas para Deus isto era pura loucura. A referência ao Éden no versículo 13 não é
literal, mas significa que o rei imaginava-se privilegiado acima de todos os
outros. Ele pensava que era especial, como querubim ungido de Deus ou como
algém que vivesse na própria montanha de Deus (versículo 14). Ele se retratava
nos termos mais gloriosos. Pela sua arrogância, Deus o julgaria severamente
(versículos 16-19). Novamente, portanto, quando lemos esta passagem no seu
contexto, VEMOS QUE NÃO TEM NADA A VER COM A ORIGEM DE SATANÁS.
Lucas 10:18
Em Lucas 10:18, Jesus diz:
"Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago." Aqueles
que pensam que Satanás é um anjo rebelde decaído acreditam que este versículo
estabelece o assunto convincentemente. Contudo,
de novo, precisamos olhar para esta afirmação no seu contexto.
Em Lucas 10:1 e seguintes,
Jesus tinha enviado setenta discípulos numa missão de pregação. Realmente, era
mais do que apenas uma missão de pregação, pois Jesus também os enviou para
curar e expulsar demônios (versículos 9,17). É importante entender exatamente o
que estes setenta discípulos cumpriram e o que o próprio Jesus cumpriu em seu
ministério. Enquanto Jesus estava nesta
terra, ele guerreou contra o reino de Satanás. Antes que Jesus pudesse
estabelecer seu reino (o reino de Deus), ele tinha que invadir o território do
inimigo, vencê-lo e tornar o inimigo (Satanás) impotente e fraco. Isto ele fez
pregando o evangelho e demonstrando visivelmente seu poder. As curas
miraculosas, e especialmente a expulsão de demônios, não eram atos casuais de
bondade; elas eram em vez disso assaltos diretos sobre o reino de Satanás.
Proclamando a "libertação dos cativos" no
evangelho (veja Lucas 4:18), Jesus
estava proclamando a derrota de Satanás e do pecado. Jesus veio libertar o
homem do domínio de Satanás, um domínio esumido em pecado e morte.
É no contexto desta guerra
espiritual que temos que entender os milagres associados com o ministério de
Jesus e, mais tarde, dos apóstolos. Os milagres associados eram físicos,
demonstrações visíveis, exemplos, ilustrações do que Jesus pode fazer pelos
homens espiritualmente. Em nenhum lugar isto fica mais claro do que na expulsão
de demônios. A possessão por demônios era uma manifestação óbvia do domínio de
Satanás sobre pessoas. Que maior domínio sobre uma pessoa Satanás poderia ter
do que invadir seu corpo, através de um demônio, e comandar seus atos? Quando
Jesus expulsava demônios ele estava libertando pessoas da garra de Satanás, Ele
estava destruindo o domínio do Maligno sobre elas. Era uma demonstração
especialmente clara, ao nível físico, do poder do evangelho, e era uma
ilustração de como Jesus podia libertar os homens do reino de Satanás e pô-los
sob o reino de Deus.
O mesmo é verdade também
quanto às curas milagrosas de Cristo. Doença e morte eram manifestações do
poder de Satanás sobre o homem. Curando os doentes, Jesus estava livrando
pessoas do poder de morte exercido por Satanás, assim vencendo-o. Observe o que
Jesus disse sobre a mulher que tinha uma doença causada por um espírito em
Lucas 13:16: "... esta filha de Abraão, a quem Satanás trazia presa há dezoito
anos" não deveria ela ter sido libertada, no sábado? Jesus estava
demonstrando, em suas curas milagrosas, seu poder sobre Satanás, seu poder para
livrar os homens do domínio de Satanás. A cura era uma ilustração do que Jesus
pode fazer por nós espiritualmente, através do seu evangelho. Assim, não é
coincidência que Mateus ligue as atividades de pregar o evangelho e a cura dos
doentes em Mateus 4:23: "Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando
nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda a sorte de doenças
e enfermidades entre o povo." Estas duas atividades iam juntas
muito naturalmente.
Quando os setenta discípulos
retornaram, relataram seu grande sucesso a Jesus. regozijando porque "...
os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome!" (Lucas 10:17). Jesus
os havia enviado como um exército para invadir o território de Satanás e
guerrear. Sua campanha tinha tido um tremendo sucesso. Satanás sofreu uma
derrota com cada demônio que eles expulsaram. Jesus respondeu com um
reconhecimento: "Ele lhes disse: Eu via a Satanás caindo do céu como um
relâmpago. Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões, e
sobre todo o poder do inimigo, e nada absolutamente vos causará dano".
(versículos 18-19). Observe a menção de Jesus a "... sobre todo o poder do
inimigo". Satanás estava sendo derrotado no ministério de Jesus.
Os setenta discípulos tinham compartilhado esse ministério, e isso culminaria
na maior vitória sobre Satanás: a morte
e a ressurreição de Cristo que decisivamente derrotaram o poder de Satanás de
pecado e morte, respectivamente. Assim,
quando Jesus diz: "... eu via a Satanás caindo do céu como um
relâmpago", ele estava descrevendo quão grandemente seu ministério estava
derrotando o poder de Satanás sobre os homens. O poder de Satanás não mais
seria incontestável e absoluto. Em sua obra, Cristo estava destruíndo o
aparentemente invencível poder do pecado e da morte. Em linguagem que relembra
Isaías 14:12-14, Jesus compara o poder anterior de Satanás a uma estrela, e
essa estrela agora caiu. Apocalipse 9:12 e Mateus 24:29 também usam a imagem de
uma estrela cadente para descrever a derrota do poder.
Portanto, novamente, o texto que alegamente prova a origem do
diabo não é sobre a origem de Satanás de modo nenhum. É somente introduzindo
tal idéia no texto que ele pode prestar algum serviço a tal doutrina.
Apocalipse 12:7-9
Talvez a passagem mais popular
quando se fala sobre a origem de Satanás seja esta, Apocalipse 12:7-9. Ela diz:
"Houve peleja no céu. Miguel e os seus anjos pelejaram contra o dragão.
Também pelejaram o dragão e os seus anjos; todavia, não prevaleceram; nem mais
se achou no céu o lugar deles. E foi expulso o grande dragão, a antiga
serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi
atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos".
Quem quer que alguma vez tenha
olhado para o Apocalipse de João sabe que nele abundam estranhos símbolos. É
somente pela violência de tratar a linguagem simbólica literalmente, e por
ignorar o contexto, que podemos tirar uma história da origem de Satanás deste
texto.
Apocalipse 12 é uma descrição
simbólica das circunstâncias espirituais que causaram e conduziram à
perseguição que os leitores de João enfrentaram. João escreveu o Apocalipse
para dar aos seus primeiros leitores uma visão de seu sofrimento, para vê-la
num contexto mais amplo. Eles foram apanhados numa tremenda luta entre Deus e
Satanás. O diabo estava tentando destruir a igreja, usando Roma como seu
agente. João, assim, estava dando aos seus leitores uma perspectiva de sua
situação que poderia ajudá-los a suportá-la. Como uma descrição simbólica e figurativa não devemos, certamente,
lê-la literalmente, nem devemos tratá-la como alguma espécie de narrativa
cronológica e histórica do que tinha acontecido.
Apocalipse 12 é admitida como uma passagem difícil, mas os
estudantes que vêem o livro do ponto de vista de seu contexto histórico
geralmente concordam que ele é sobre a vitória do povo de Deus e a derrota de
seu inimigo, Satanás. A primeira parte do capítulo (versículos 1-6) apresenta
diante de nós uma história de nascimento de uma criança do sexo masculino que
se torna o dominador das nações. Esta imagem representa Cristo (a alusão ao
Salmo messiânico, Salmo 2, em Apocalipse 12:5 confirma isto). Contudo, um grande dragão (Satanás)
imediatamente desafia seu aparecimento. O aparecimento de Jesus desencadeia uma
grande guerra espiritual (versículo 7). O domínio de Satanás sobre a situação
humana tinha, até agora, ficado indisputado. Quando Cristo aparece, o poder de
Satanás sobre o homem é efetivamente destruído, e Satanás sofre uma derrota
esmagadora (versículo 9). A história básica que João apresenta aqui nos
versículos 7 e seguintes é que Satanás
perdeu sua tentativa de ganhar domínio sobre a humanidade. Ee e suas forças não
são adversários para Deus e suas forças. Ele não pode derrotar Deus e seu Filho.
Numa grande destruição, Satanás é lançado abaixo, simbolizando sua ruína.
Que Satanás tenha sido atirado à terra é, eu penso,
significativo. É uma mudança na frente de batalha. Desde que Satanás não pôde
derrotar Deus no reino espiritual, ele então volta sua atenção para o reino
físico, onde ele espera ser vitorioso. É a mesma batalha pelo domínio
espiritual sobre o homem, mas agora é uma batalha espiritual travada na terra.
Agora, em vez de tentar destruir o Filho de Deus (tentativa que fracassou), ele
tenta destruir o povo de Deus que vive na terra. Satanás inunda a terra com
suas mentiras, enganos, tentações, etc., em seu esforço para destruir o povo de
Deus, mas isto também fracassa (versículos 11,17).
Apocalipse 12:7-9 é sobre como
Satanás recebeu uma derrota esmagadora pelo aparecimento e obra de Jesus. João escreveu isto para encorajar seus
leitores que estavam sofrendo por causa do ataque de Satanás através de um
poder mundial perverso, Roma. Eles poderiam suportar se soubessem que a vitória
era deles. Conhecer a origem de Satanás não teria feito nada para
encorajá-los a perseverar sob provações severas.
Então, donde veio Satanás?
Se nenhuma das passagens que
são comumente citadas como relatos da origem de Satanás são realmente sobre sua
origem, então donde ele veio? Bem, não
estou certo de que a Bíblia revela a resposta para nós exatamente. Podemos ter
uma curiosidade sobre o assunto, mas temos que não permitir que tal curiosidade
nos instigue a encontrar respostas que ali não se encontrem.
O melhor que podemos fazer, eu penso, é inferir umas poucas
coisas sobre Satanás. Primeiro, somente Deus (o Altíssimo) é incriado. Tudo o
mais e todos no universo são criados. Portanto, Satanás é um ser criado. A
Bíblia, em nenhum lugar diz que ele é um ser eterno como Deus. Segundo, a
Bíblia atribui onipotência somente a Deus (o Soberano). Portanto, Satanás não é
um ser onipotente. Ainda que ele tenha grandes poderes, Deus limita seu uso
deles (conforme 1 Coríntios 10:13; Jó 1-2).
Terceiro, há seres que foram feitos e que existem acima do
nível humano. Podemos chamá-los seres espirituais por falta de um termo melhor. Entre estes seres espirituais estão os anjos, mas estes aparentemente
não são os únicos tipos de seres espirituais (conforme Efésios 6:12; Apocalipse
4-5). A respeito desta ordem de seres, conhecemos mais sobre anjos do que
quaisquer outros. O quadro que obtemos pela palavra de Deus é que seres espirituais são muito mais
interessados em negócios da terra e, às vezes, estão envolvidos neles. Por
exemplo, anjos mediaram a Lei de Moisés (Gálatas 3:19), anjos anunciaram a
ressurreição de Cristo (Mateus 28:5), e anjos desejaram ver o cumprimento do
plano de Deus de salvação (1 Pedro 1:12). Embora isso possa ser uma
especulação, também parece que seres
espirituais, conquanto sejam criados, não obstante não são ligados em sua
existência às limitações de tempo ou idade.
A Bíblia em lugar nenhum
identifica Satanás como um ser humano. Ele
é, obviamente, um dos seres espirituais sobre os quais lemos na Bíblia. Isto
não quer dizer que Satanás seja um anjo. De fato, teria sido muito fácil, em
qualquer dos contextos e para qualquer dos escritores, dizer que Satanás era um
anjo, mas eles nunca o disseram. Ele é, não obstante, um ser espiritual e a
Bíblia o descreve como, entre outras coisas, "o príncipe da potestade do
ar" (Efésios 2:2). Vemos Satanás, pela primeira vez, no Jardim do Éden
(Gênesis 3), justo no começo da história humana, e ele tem existido
continuamente desde então.
Quinto, seres espirituais, como seres humanos, têm livre
arbítrio. Judas descreve o castigo dos anjos rebeldes no versículo 6 de sua
epístola, e Pedro fala de anjos pecando em 2 Pedro 2:4. Portanto, Satanás se
opõe a Deus porque ele decide fazê-lo.
Parece que o máximo que poderíamos dizer sobre a origem de
Satanás é que ele é um ser criado, mas espiritual, que decidiu opor-se a Deus,
e que ele recruta outros seres espirituais e seres humanos em seus esforços. MAIS
DO QUE ISTO É SÓ ESPECULAÇÃO.
Conclusão
Num sentido muito
significativo, não importa de onde
Satanás veio. A ênfase na Bíblia cai, em vez no que ele faz. Não é como ele veio a existir que preocupa.
É o fato que ele existe que nos preocupa.
Ele continua a trabalhar contra nós em
sua tentativa de dominar a humanidade, e para nós Jesus deixou a continuação da
guerra. "Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder.
Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as
ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne e sim
contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo
tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes"
(Efésios 6:10-12).
FIM
Castelo de Vermes - (Arquitetos do Vácuo)
" Venha comer... Sou o anfitrião... Delicie-se com o banquete preparado. Sou o autor, vou sonhar com a sua dor. Beba como fez Baco, rebelde como Caim. Sou o senhor de Metrópoles, a Sodoma Eterna, e assim eu permanecerei. Aqui todos vivem do caos, do pandemônio, mantenha-se nesta atitude e no fim eu reinarei. Sente-se em minha fortaleza, no meu monte. Beba meu vinho, que eu enchi até o fim de sua alma. Enquanto você em torpor dormia, em minha cama, construi altas muralhas... Meu castelo... Seu pecado. Oh, para velar minha esplêndida queda. Apresento-vos, eu apresento a vocês. Apresento-vos esta coroa de vermes. Cercando-nos com miséria. Cortinas pesadas da minha história. Na abominação intrigante eu sou uno. Em minha mão esquerda está a pérfida majestade. Sou o cinismo completo, fingindo como você afeição, escondendo meu verdadeiro fim. Disputa com o Criador, a mentira é a minha glória. Eu não me importo com ninguém, meu evangelho é a morte. Tudo de mim esvaiu, apenas a escuridão do fulgor hermético foi deixado. Apresento-vos, eu apresento a vocês. Apresento-vos esta coroa de vermes. A obscuridade viva e fria como pedra. Esta é minha lei, "...faze o que tu queres...". Sou Orgulhoso... Sou Egoísta... Mammon e Lilith... Ouro e Luxúria. Como você, obliteramos o espírito... Sou velho como o tempo... Inumeráveis são minhas iniquidades... Tão colossal minha fome que em dejetos se satisfaz. Como fábula é contada minha saga. Estou sozinho, com a agonia do vazio de minha verdade. Minha força de vontade é meu aguilhão e meu cativeiro. Meu fim é o conhecimento e consciência de minha culpa. Minha confusão é cabal. Abrigada em meu ser... Até que no vazio do caos, na noite final, quando a escuridão absoluta chegar, só isso eu me torne."
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