Vamos, repare olhe mais próximo, reflita mais um minuto e lhe será revelado, o mistério da cruz. Olhemos com rigor. Jesus é 100% homem e 100% Deus, não mistura, não metade, plenitude em duas naturezas, uma só Pessoa. Cumpriu a Lei e os Profetas sem resto. Amando o Pai sobre todas as coisas, amou a Si sem vaidade, pois amar a Deus é pôr o próprio ser em ordem. No segundo mandamento, amar o próximo como a Si, Ele mede o amor com a régua do Santo. Quem O observa amar, vê o mandamento em sua forma adulta, sem muletas. No outro, Ele não adorou um ídolo, reconheceu a imagem do Deus vivo e a serviu com sangue e verdade. A cruz, vértice vertical e braço horizontal, é o ponto de choque desses amores, sentença e não teoria. Em Cristo, o sim de Deus ao homem e o sim do homem a Deus coincidem, como martelo que sela o veredito no coração do mundo.
Uma só Pessoa, duas naturezas e duas vontades: como Filho eterno e como verdadeiro homem, Jesus ama perfeitamente o Pai em ambas as vontades (dyotelitismo). (Jo 14:31; Hb 10:7) “Amar-se” em Jesus não é narcisismo: é a reta estima do próprio ser conforme a vontade do Pai. Como Deus, o Filho participa do amor trinitário; como homem, ama-se ordenadamente para cumprir o Pai. (Jo 17:24; Mt 22:37) O “como a si mesmo” em Jesus: Ele ama o próximo com o amor ordenado que tem por Si enquanto fiel ao Pai — por isso Se identifica com “os pequeninos” sem confundir Criador e criatura. (Mt 25:40) “Ver Deus no próximo”: válido no sentido da imagem de Deus e, sobretudo, da união com Cristo; não é adoração nem panteísmo. (Gn 1:27; Cl 3:10; 1Jo 4:20–21) Síntese: o amor vertical gera e mede o horizontal. Jesus, amando a Deus sobre tudo, ordena Seu amor de Si e, por Deus, ama o próximo — não como Deus a ser adorado, mas como portador da imagem e objeto do amor de Deus.
Veja:
1) Uma só Pessoa, duas naturezas e duas vontades:
Jesus não era meio Deus e meio homem, más plenamente ambos. No concílio de Calcedônia se confessou que Ele possuía duas naturezas, divina e humana, unidas em uma só Pessoa. Cada natureza tinha também sua vontade própria, sem confusão nem divisão. Por isso, como Filho eterno, amava o Pai desde sempre, e como homem, assumiu a obediência perfeita até a morte. Ele pôde dizer “faço sempre o que Lhe agrada” e também “não seja feita a minha vontade, mas a tua”. Nele não havia conflito entre querer humano e querer divino, mas perfeita harmonia, mostrando que amar a Deus é a essência de ser plenamente humano.
2) O amor de Jesus por Si mesmo:
Amar-se não é egoísmo quando se trata do amor santo e ordenado. Jesus, como homem, sabia que Seu valor não vinha de orgulho, mas do Pai que O enviara. Ele se amava justamente porque estava dentro da vontade de Deus, e não fora dela. Como Deus, já participava eternamente do amor perfeito da Trindade. Como homem, viveu esse amor em obediência e humildade. Assim, o amor próprio de Cristo é o padrão do amor puro: ver-se como criação perfeita do Pai, sem vaidade, mas também sem autodesprezo, e por isso apto a ser a medida do mandamento de amar o próximo.
3) O como a si mesmo:
Quando Jesus disse “como a ti mesmo”, Ele não falava de um amor imperfeito, cheio de vaidade e pecado, mas de um amor justo e santo, que considera o valor da própria vida como dom de Deus. No caso de Cristo, esse amor é absoluto, pois Ele é o próprio Santo de Deus. Logo, quando ama o próximo como a Si mesmo, o faz com a medida de Seu próprio amor perfeito. Por isso, ao dizer que o que fizermos a um dos pequeninos, fazemos a Ele, Jesus mostrou que Seu amor se derrama e alcança todos, sem distinção.
4) Ver Deus no próximo:
O próximo não é Deus para ser adorado, mas traz em si a imagem do Criador. No pecado, essa imagem foi distorcida, mas não apagada. Cristo, porém, é a imagem perfeita do Deus invisível, e nEle a humanidade é restaurada. Assim, ver o próximo é ver alguém que carrega em si essa centelha do valor divino, e por isso merece amor e cuidado. Quando Cristo Se identifica com os famintos, sedentos, estrangeiros e presos, mostra que amar o próximo é amar o reflexo de Deus nele. Não há idolatria aqui, mas reconhecimento da dignidade concedida pelo Criador.
5) Síntese do amor vertical e horizontal:
O amor a Deus é a raiz, o amor ao próximo é o fruto. Jesus, sendo raiz e fruto em Si mesmo, mostra a perfeita união das duas ordens. Ao amar o Pai com todo Seu ser, Ele amou o próximo até o fim, entregando a própria vida. O madeiro da cruz mostra isso com clareza: a haste vertical aponta para o céu, a relação com o Pai, e a haste horizontal se estende sobre a terra, alcançando o próximo. Em Cristo, os dois se unem, e só nEle a cruz se torna plena revelação do amor de Deus.
DIANTE DE DEUS ATÉ DEUS SE DOBRA
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