quinta-feira, 19 de maio de 2011

Mundos impossíveis?

Por: O Senil

Um fenomenólogo chamado Eugen Fink diz em um de seus livros (chamado, em tradução livre, de “jogo como símbolo do mundo”) que a fenomenologia fala basicamente da questão do “mundo”. Este seria o tema essencial de toda pesquisa fenomenológica. E, devo dizer, é bem verdade. “Mundo” abarca tudo aquilo que conhecemos e com as quais podemos estabelecer alguma relação recíproca: nós nos encontramos com coisas no mundo. A fenomenologia também pôde contar as pessoas um fato óbvio: nós estamos em um mundo. Nas palavras de Fink: “o mundo não é um objeto; ele é antes, talvez, a região de todas as regiões, o espaço de todos os espaços e o tempo de todos os tempos”.

O que isso significa? Nós não estamos diante do mundo. Ele não se mostra diante de nós. Nós estamos nele. Somos parte deste mundo em que fomos lançados. Pascal, pensador e matemático francês, afirma que cada um de nós poderia ter nascido em uma outra cidade, época e família, mas que isso não aconteceu e nem pode acontecer. Esta é a condição básica de ser-lançado e que, em certo sentido, arruína as pretensões de onipotência humana.
E dizer que estamos no mundo (que somos seres-em-um-mundo) significa dizer que estamos no espaço e também no tempo. Claro que sabemos que a divisão entre tempo e espaço é um tanto artificial e falar de “mundo” é muito melhor para descrevermos nossa condição. Mesmo falar em “universo” para descrever esta condição é um falseamento do problema porque este conceito “coisifica” o mundo colocando-o como um “Grande Objeto” diante de nós, sujeitos.
Paradoxalmente, é interessante que, mesmo já estando desde que nascemos em um mundo, nós sempre nos deparamos com outros mundos diante de nós e nos quais podemos nos lançar se o desejarmos. Talvez pudéssemos chamá-los mais acertadamente de “mundos possíveis” porque há a possibilidade de os percebermos como mundos. Merleau-Ponty, ao falar sobre a percepção (nossa relação mais original com as coisas do mundo), afirma que tudo é um mundo, que todo fenômeno possui várias faces que podemos observar. Seja como for, é preciso que nos deixemos iludir (lembram-se do in-ludere?) por eles se realmente queremos compreendê-los e se realmente queremos dizer que estamos neste outro mundo.
Já falei muito aqui da importância de nos lançarmos a um outro mundo, nos lançarmos a um jogo. Mas é preciso que entendam que isso não é mero jogo de palavras: é realmente preciso “estar lá” e não mais “aqui”. Calma, que vou explicar.
Ao olharmos para as obras de Escher que tratam de invenções e brincadeiras com a perspectiva, podemos notar sua ênfase em se divertir com o espaço. E ele adorava o espaço “real” que podemos “ver” naturalmente e sem esforço. “Estar lá”, em outro mundo, não significa fazer as malas e entrar em um lugar diferente como fazemos ao viajar para algum país exótico. Embora todo os mundos que existem dentro deste mundo que todos compartilhamos derive deste, isso não significa que ele seguirá suas regras e seus espaços. E também não quero dizer que esses lugar existem “somente na imaginação” porque vemos estes espaços em suas obras, assim como vemos reinos e cidades “impossíveis” diante de nós ao lermos livros, vermos filmes, ou jogarmos um game.
Ao nos lançarmos a determinado espaço, ele possui certas regras. Algumas delas exigem que aceitemos uma cachoeira que corre perpetuamente, um edifício impossível de ser construído em nosso mundo, ou uma garota que cresce e diminui ao comer e beber algumas coisas.
Escher brinca muito com o que chamam de “espaços impossíveis”. O que é, para mim, uma designação errada porque a imaginação não requer algo que seja possível no plano espacial de nosso mundo-base. Eu posso dizer isso porque estive lá. Impossível seria se fosse um espaço incapaz de ser penetrado, um espaço pertencente a certo mundo que ninguém pudesse entrar. As cidades invisíveis não são impossíveis: elas estão aí; basta que “se entre nelas”, mesmo já estando em seu espaço sem percebê-lo.
“Entrar” é essencial aqui. Embora não possamos escolher o mundo em que estamos antes de nosso nascimento, podemos escolher por quais mundos nos deixaremos levar. Em quais mundos entraremos? Ou, levando para o singular, “em qual mundo entrarei?” quando vemos diante de nós vários games que queremos jogar. Entrar em um jogo é entrar em um espaço muito preciso e peculiar. Se avançarmos suas linhas, o abandonaremos com rapidez. Assim como ao entrarmos em uma casa, podemos atravessar uma janela, uma porta ou uma parede falsa e sair dela, se fizermos determinadas coisas.
O que quero dizer com tudo isso? Simples: ao afirmarmos que “é preciso entrar no jogo”, não usamos uma simples metáfora. É preciso estar ali, naquele espaço. E estar em um espaço é percebê-lo; e percebê-lo e a tudo que nele está conosco é o que fazemos em um jogo. Não jogamos games somente porque “imaginamos” o que acontece, mas porque as vemos. Seja um game, ou um livro.
Sartre diz que a imaginação nada mais é do que perceber a ausência. E talvez seja por isso que muitos jogadores dizem que preferem jogos antigos porque exploram mais a imaginação: nem tudo é dado de bandeja e nem tudo é detalhado para você. Assim como em um livro em que rostos se formam quando lemos algo como “corriam pela estrada fumegante de lava dois sujeitos com aparência solene. Não desesperados, o velho de barba branca e manto cinzento corria em último lugar e à sua frente trotava um pequenino de pés peludos temendo por sua vida e de seu destino”. As palavras não fazem referência a algo; elas não nos fazem imaginar necessariamente. Com um game é a mesma coisa. Ver uma árvore, seja ela mais “realista” ou mais “cartunesca”, ainda é uma árvore e, dentro daquele espaço, faz sentido como árvore.
Um outro ponto interessante é a repetição. Escher nos convida a reavaliar os espaços que cria sob diferentes perspectivas (ou sob as mesmas). Em todo jogo e todo fenômeno do mundo faz o mesmo conosco, mostrando-se como novo a cada vez que olhamos para ele, a cada vez que estamos nele. Merleau-Ponty diz que todo fenômeno é inesgotável e como saberemos disso se não nos voltarmos infindas vezes a uma mesma coisa? Ou ler sobre viagens de outras pessoas ao mesmo mundo? “Relatos de viagem” de viagem são importantes por descreverem o que foi visto e vivido. O erro de alguns críticos é se fiarem muito mais no julgamento valorativo e moral de games e jogos do que em descrevê-los; preferem dizer que um é melhor d que outro do que descrever a experiência com cada um. Assim, nunca saberemos como é um mundo: é como dizer, simplesmente, que Dublin é melhor que Belfast sem descrever nenhuma delas.
Para concluir, queria que pensassem em uma questão correlata. Crianças, adolescentes e adultos, embriagados de certo egoísmo que nada tem de juvenil (e sim um tanto diabólico) declaram que querem “mais espaço”. O espaço não pode ser possuído; por ser parte constituinte do mundo, ele nos envolve. A questão é: percebemos este espaço em que estamos? Voltamos os nossos olhos a ele? Não tenho a Belvedere de Escher e nem o Dead Sea de Chrono Cross: mas sei como é estar em cada um destes lugares. E é somente estando neles que abrimos as possibilidades de percebermos tudo o que cada um deles contém.
Fonte:Gagá games - http://www.gagagames.com.br/

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Textos e poesia de meus alunos

Eu sou professor da UEG - Unidade Mineiros e este ano assumi a disciplina de Leitura e Produção Textual, a seguir apresento a vocês dois textos de meus alunos. Colocarei-os integralmente, sem qualquer tipo de correção, espero que apreciem este trabalho:

Mundo de Gigantes

Queria olhar para trás e não ver a dor,

Queria olhar para o futuro e ver o amor,

Mas eu não posso, nessa linha do tempo,

Em meu esforço

Tentando concertar o que não quebrei,

Compartilho com todos o que eu sei,

O pouco que aprendi e aprendo a cada dia,

Remete-me a alucinações verídicas,

Vejo o mundo controlado pelo topo da pirâmide,

Classes inferiores...

Formigas em baixo de pés de elefantes.

Juventude descontrolada,

O que o futuro nos reserva?

Vocês serão responsáveis...

Pela morte da verdade?

A beleza que este mundo foi,

Da terra não pode mais brotar,

Estamos a poucos passos do precipício...

E continua...a...mente a vagar!

Rogério Lemes


Além do horizonte

Em um distante lugar onde não existe, mas eu estive lá, muito além do horizonte, vago, onde os olhos humanos jamais enxergam o seu final. Não há solo para se pisar, mas eu andei muito sobre aquele chão, onde meus pés pareciam flutuar, tinha uma sensação tão verdadeira de que estava voando, mas o real não poderia existir, porque lá nada existe.

Trilhei por caminhos em busca da verdadeira felicidade; como posso descobrir algo concreto em um lugar assim?

Naquele alto monte compostos por rochas de pensamentos capitalistas, vazias.
É possível ir além do horizonte! Encontrei-me com a felicidade, conversei com ela e a perguntei: o que fazes aqui? E ela me disse: "Na realidade deixei de existir para a maioria das pessoas, pois perderam a capacidade de escolherem o verdadeiro caminho para me encontrar."

Queria encontrar Ele, mas não o vi; Ele é tão real na vida dos que vivem na irrealidade, que não pude vê-lo, aqui neste lugar.

Você sabe onde Ele está?

Ronaldo Moraes

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Onde Deus estava...

A Mãe deu um pulo assim que viu o cirurgião a sair da sala de operações.

Perguntou:

- Como é que está o meu filho? Ele vai ficar bom?

- Quando é que eu posso vê-lo?

O cirurgião respondeu:

- Tenho pena. Fizemos tudo, mas o seu filho não resistiu.

Sally perguntou:

- Porque razão é que as crianças pequenas tem câncer? Será que Deus não se preocupa?

- Aonde estavas Tu, Deus, quando o meu filho necessitava?...

O cirurgião perguntou:

- Quer algum tempo com o seu filho? Uma das enfermeiras irá trazê-lo dentro de alguns minutos e depois será transportado para a Universidade.

Sally pediu à enfermeira para ficar com ela enquanto se despedia do seu filho. Passou os dedos pelo cabelo ruivo do seu filho.

- Quer um cachinho dele? Perguntou a enfermeira.

Sally abanou a cabeça afirmativamente.

A enfermeira cortou o cabelo e colocou-o num saco de plástico, entregando-o a Sally.

- Foi idéia do Jimmy doar o seu corpo à Universidade porque assim talvez pudesse ajudar outra pessoa, disse Sally. No início eu disse que não, mas o Jimmy respondeu:

- Mãe, eu não vou necessitar do meu corpo depois de morrer. Talvez possa ajudar outro menino a ficar mais um dia com a sua mãe.

Ela continuou:

- O meu Jimmy tinha um coração de ouro. Estava sempre a pensar nos outros. Sempre disposto a ajudar, se pudesse.

Depois de aí ter passado a maior parte dos últimos seis meses, Sally saiu do "Hospital Children's Mercy" pela última vez.

Colocou o saco com as coisas do seu filho no banco do carro ao lado dela.

A viagem para casa foi muito difícil.

Foi ainda mais difícil entrar na casa vazia.

Levou o saco com as coisas do Jimmy, incluindo o cabelo, para o quarto do seu filho.

Começou a colocar os carros e as outras coisas no quarto exatamente nos locais onde ele sempre os teve.

Deitou-se na cama dele, agarrou a almofada e chorou até que adormeceu.

Era quase meia-noite quando acordou e ao lado dela estava uma carta.

A carta dizia:

-Querida Mãe,

Sei que vais ter muitas saudades minhas; mas não penses que me vou esquecer de ti, ou que vou deixar de te amar só porque não estou por perto para dizer:"AMO-TE".

Eu vou sempre amar-te cada vez mais, Mãe, por cada dia que passe.

Um dia vamos estar juntos de novo. Mas até chegar esse dia, se quiseres adotar um menino para não ficares tão sozinha, por mim está bem.

Ele pode ficar com o meu quarto e as minhas coisas para brincar. Mas se preferires uma menina, ela talvez não vá gostar das mesmas coisas que nós, rapazes, gostamos.

Vais ter que comprar bonecas e outras coisas que as meninas gostam, tu sabes.

Não fiques triste a pensar em mim. Este lugar é mesmo fantástico!

Os avós vieram me receber assim que eu cheguei para me mostrar tudo, mas vai demorar muito tempo para eu poder ver tudo.

Os Anjos são mesmo lindos! Adoro vê-los a voar!

E sabes uma coisa?...

O Jesus não parece nada como se vê nas fotos, embora quando o vi o tenha conhecido logo.

Ele levou-me a visitar Deus!

E sabes uma coisa?...

Sentei-me no colo d'Ele e falei com Ele, como se eu fosse uma pessoa importante.. Foi quando lhe disse que queria escrever-te esta carta, para te dizer adeus e tudo mais..

Mas eu já sabia que não era permitido.

Mas sabes uma coisa Mãe?....

Deus entregou-me papel e a sua caneta pessoal para eu poder escrever-te esta carta.

Acho que Gabriel é o anjo que te vai entregar a carta.

Deus disse para eu responder a uma das perguntas que tu Lhe fizeste,

"Aonde estava Ele quando eu mais precisava?"...

Deus disse que estava no mesmo sítio, tal e qual, quando o filho dele,

Jesus, foi crucificado. Ele estava presente, tal e qual como está com todos os filhos dele..

Mãe, só tu é que consegues ver o que eu escrevi, mais ninguém.

As outras pessoas veem este papel em branco.

É mesmo maravilhoso não é!?...

Eu tenho que dar a caneta de volta a Deus para ele poder continuar a escrever no seu Livro da Vida.

Esta noite vou jantar na mesma mesa com Jesus.

Tenho a certeza que a comida vai ser boa.

Estava quase a esquecer-me: já não tenho dores, o câncer já se foi embora.

Ainda bem, porque já não podia mais e Deus também não podia ver-me assim.

Foi quando ele enviou o Anjo da Misericórdia para me vir buscar.

O anjo disse que eu era uma encomenda especial!

Assinado com Amor de Deus, Jesus e de Mim.